Um pequeno edifício, um monumento, um
marco histórico.
Reforço no sitio do Caminho Chão - Santana |
Essencialmente, sinal de iluminação
eletrica!
As expressões “ao pé, atrás, acima,
abaixo do reforço” eram, e ainda são, usadas com frequência como se dum ponto
de orientação geográfica.
Recordo, há 40 e tal anos atrás quando se iniciaram
as obras do “reforço da luz” á beira do “caminho do cantinho” abaixo da casa do
“mudinho do Vieira” (compadre de meu pai). Era como se outro mundo estivesse a
nascer! Estava ansioso por ver luz na estrada como já havia desde o Lombo do
Curral até ao “lombado da igreja” (na Vila, junto da Igreja).
O reforço, construído a blocos e
cimento crescia a olhos vistos e a altura já impressionava, que comparado com
as casas de telha que já haviam na altura, dizíamos admirados: “raio q’o banano!” Notava-se que não era
um reforço igual ao que havia na parte debaixo da freguesia junto da “venda do sr. Manuel Vieira”, no Caminho
Chão. Esse, sim, de construção em pedra aparelhada, parecia um castelo.
Junto da escola dos Lamaceiros, na
entrada da estrada de terra para a Feiteira de Cima, que a catrapilha abriu há anos, um “Volvo” (designação para camião grande), maior que o do Sr.
Gregório, descarregou uma carrada de
postes de madeira, pintados de preto, com cheiro a creolina. Nessa altura no recreio, nem
brincávamos à bola, à barra ou ao pilha-à-pilha só para apreciar os homens de
pó na mão a furá-los manualmente na ponta. Eram os furos onde seriam metidos os
ganchos de metal que suportariam os fios de cobre.
A ansiedade e curiosidade de ter luz
elétrica tomava conta dos nossos sonhos. Pensavamos: será que um dia vou deixar
de fazer os trabalhos da escola à luz do “candeeiro de folha”, colocado em cima
da lata do café de cevada na mesa da cozinha, com aquele cheiro a petróleo?
Aquele candeeiro pequeno de folha
zincada, já preto do fumo do lar, com torcida curta abrasada pela chama era
usado apenas na cozinha. Havia o candeeiro de vidro, de qualidade superior, que
até tinha pequena manivela de volume da chama, que quando era aumentado em
excesso deixava logo marca de fumo no vidro, escurecendo-o. Mas esse era para
uso na sala e em cima da mesinha de cabeceira no quarto de meus pais. Melhor
que o candeeiro de vidro só mesmo aquele petromax
tipo lanterna cromada, na venda de
meu tio Sousa e ainda melhor que este, a iluminação na venda do Sr. António
Gomes, que tinha uma instalação fixa, a gás tipo petromax nos dois quartos (mercearia e quarto da bebida dos homens).
Ate ficávamos cegos com tanta claridade naqueles saquinhos incandescentes, quando
lá íamos de noite comprar 1 dl de azeite numa garrafinha de laranjada e 5
tostões de massa tomate embrulhado em papel vegetal. Melhor tivesse sido 5 tostões
de doces, um pirolito ou daqueles gâmesses
que trazia jogadores da bola e dava um catchú
para quem tivesse a caderneta completa! Mas não era dia de festa!
A lage no topo do “reforço” e os
postes afincados na beira do caminho aumentava a ansiedade também por ter luz
elétrica em casa. Mas aí era mais complicado, como a nossa casa era de palha, com
frontal de madeira não permitia a realização da “embaixada” nem pouco aquele
frontal tinha resistência para suportar o postaleto
que teria de atravessar a empena, furando o restolho. Era necessário obras de
adaptação, o frontal tinha de ser a blocos e cimento e, claro, as portas e
janelas teriam de ser também novas. A expectativa era de saber se meu pai ia
mandar fazê-las. Num dia dizia que sim, noutro dia dizia que não. Nas conversas
que ouvíamos entre eles (pai e mãe), é que era uma caristia. Já não bastava abafar a casa de 4 em 4 anos! Nem
se ponha o problema de licenças, porque não era preciso.
O “reforço” era o coração da luz elétrica,
mas meu pai dizia que para colocar luz em casa era necessário dois reforços!
Não percebia! Então ele explicava: o reforço da luz e o reforço financeiro!
Palavra reforço para mim era aquele
prédio. Ou então o djipe que subia a
ladeira do cantinho enlameirada e esvarando e ouvia o chauffer dizer que ia meter o reforço senão o carro rabiava!
Reforço feito, luzes acesas nos postes da estrada. Era uma alegria agora andar de noite e a minha casa transformou-se com os reforços e muito sacrifício.
Reforço feito, luzes acesas nos postes da estrada. Era uma alegria agora andar de noite e a minha casa transformou-se com os reforços e muito sacrifício.
foto com cerca de 40 anos |
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